sábado, 8 de março de 2008

A pedra fundamental

Todos os dias eu me pergunto onde está a minha certeza das coisas? Onde está a pedra fundamental onde baseio minhas crenças? É bem razoável que me pergunte isso, certo? Afinal, posso estar me baseando em coisas erradas, e se assim estiver, devo mudar. Dizer que me baseio no amor é muito relativo. O amor é um sentimento que, em tese, é universal, mas pode não ser. Depende da cultura de cada um. Há ateus, que não crêem em Deus, que para a grande maioria é a fonte do amor, mas ainda assim dizem “eu te amo” para seus maridos e esposas. Há os islâmicos (e não o islamismo), que juram que as mortes que causam são em nome do amor a Alá, embora possa dizer que li o Corão e, de acordo com minha interpretação, não há nele uma linha sobre isso. Há os cristãos (e não o cristianismo), que dizem que Cristo é o maior dos exemplos de amor, mas organizaram as Cruzadas em Seu nome. Enfim, há de tudo. Todos os tipos de crenças, religiões, culturas, etc. Em várias delas há os contrapontos a respeito do amor. Para quem crê que Deus é amor, como acreditar quando um ateu lhe diz “eu te amo”? Estranho, não? Paradoxal, eu diria, mas talvez seja verdade. Por que não seria? Na visão dele pode ser. O problema é: de onde vem sua visão de amor? O que é o amor para ele?

Eu, particularmente, acho que o amor é universal, sim. Sua compreensão dele é que não é. E é exatamente por isso que acho que, por mais nobre que seja, este sentimento realmente não deve ser a única base para toda a minha conduta, a minha crença. Explico.

Há quem defenda que no amor vale tudo. Que não há leis no amor. Para mim isso é muito, muito estranho. Recuso-me a acreditar que Deus, que para mim é a fonte do amor, ache natural, por exemplo, um marido espancar a esposa e essa não prestar queixa, pois a justificativa é que ela ama o seu companheiro. Recuso-me que Deus ache normal um filho espancar a mãe e esta não fazer nada a respeito. Recuso-me a acreditar que Deus ache normal que um casal que diz que se ama participa de orgias. Enfim, há muitas coisas que alguns dizem ser feitas em nome do amor, mas que minha percepção de Deus não me deixa acreditar como o sendo realmente. Diversos homens passaram pela Terra ensinando o que é o amor. Eu escolhi, dentre eles, o Cristo. Este homem deixou um mandamento: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”. Não foi só amar a Deus sobre todas as coisas ou só ao próximo como a si mesmo. Foi os dois. Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Sendo assim, Deus vem em primeiro lugar. Ele vem sobre todas as coisas. E por todas podemos incluir nossa própria individualidade. Ora, se devemos amar a Deus acima de tudo, praticar atitudes que sejam contra o que Ele é em essência, ou seja, amor, é não amá-Lo. É, no mínimo, desrespeitá-Lo. Creio eu, em minha pequena compreensão da vida, que há determinadas condutas que, mesmo justificadas com o amor, não condizem com ele. As que citei acima são alguns exemplos. Por isso disse que creio que o amor seja universal. O mesmo já não posso dizer a respeito da compreensão que se tem dele. Isso varia. Sempre, é claro, deturpada pela nossa condição de humanos imperfeitos. É este o motivo de eu não pautar minha conduta apenas pelo amor, pois assim eu poderia estar caindo em erro, poderia dar má interpretação a algo tão sublime e puro. Não me atrevo a conceber uma nova idéia de amor. Pauto, portanto, minha conduta na do homem que, para mim, foi o maior exemplo na Terra: Jesus Cristo. Certamente não me comparo a Ele, mas tenho-O como meu modelo, como aquilo que eu gostaria de ser. Vivo, portanto, tentando ser como Ele. Não consigo, certamente. E, pelo menos sem renascer inúmeras vezes de água e Espírito, como Ele mesmo disse, não conseguirei. Mas tento. É pra Ele que olho. É pra Ele que direciono meus pensamentos. É pra Ele que direciono minhas ações.

Jesus Cristo nos ensinou o amor puro, mas não nos isentou das responsabilidades. Ditou inúmeras normas, apresentou inúmeros exemplos de coisas derivadas do amor. Apresentou restrições àqueles que queiram segui-Lo e ascender ao Reino dos Céus, como Ele chamava. Falou-nos de caridade, de respeito, de oração, de vigilância de atos e pensamentos e de brandura do coração. Lamentou os que faziam a guerra e os que não O davam ouvidos. Calou-se diante do tribunal que o acusava e se fez servo dos que O seguiam, mostrando-lhes a humildade. Mesmo assim, sempre afirmou com certeza e propriedade que Ele era o caminho, a verdade e a vida. Como não lembrar do sermão da montanha e das bem aventuranças? Como esquecer seu pranto no Monte das Oliveiras, aflito pelos momentos do porvir? Ainda na cruz perdoava os inimigos que lá O colocaram. Jesus foi, sim, um imenso exemplo de amor. É respeitado por todos os povos por isso, mesmo aqueles que não O têm como o messias. Mas não foi só isso. Foi um grande educador. Um homem que veio para disciplinar a todos. Repreendia quando necessário. Chamava de hipócritas aqueles que como tais se comportavam. Ordenou que Pedro baixasse a espada e o repreendeu duramente quando este cortou a orelha do soldado que o prendera. Era amoroso, a personificação do amor, mas era severo e disciplinado. Deus o fizera assim. Pensar o contrário era julgar que Deus deixou a critério dos homens o juízo do que é certo e errado baseado apenas em suas próprias interpretações do amor. Fazer isso é negar veementemente que Jesus é, portanto, o messias prometido. É achar que Deus não tem Suas próprias leis. Que nós somos os responsáveis por determiná-las em nossas vidas a nosso bel prazer. Não creio em um Deus perfeito assim.

Negar o Cristo não é um problema para os povos não cristãos, que têm, por sua vez, seus representantes. O problema é quando alguém se diz cristão mas não age como tal, negando que Cristo seja o exemplo máximo de conduta e amor. Todas as religiões, cristãs ou não, possuem seus representantes, seus ícones máximos. Além deles há os que vieram depois para ratificar os exemplos. Em todos os povos da humanidade já nasceram grandes homens e mulheres que sempre ganharam notoriedade por suas condutas e palavras. Santos ou não, vários desses seres humanos marcaram e marcarão para sempre nossas vidas e a história do mundo. Gandhi, Luther King, Mandela, Irmã Dulce, Francisco Cândido Xavier, os seguidos Dalai Lama... Enfim, vários foram os exemplos de amor, mas não apenas de amor, que passaram por aqui. Todos eles, cada um em sua respectiva crença, em seu respectivo meio cultural, social e religioso, seguiam e ensinavam suas regras de conduta aos que passavam por seus caminhos. Nenhum deles interpretava o amor através de sua própria cabeça, de seu próprio raciocínio. Todos tinham uma base, cristã ou não, que seguiam com fervor. O respeito ao ser humano é o primeiro ponto que todos tinham em comum. Não consigo ver qualquer um deles desrespeitando os pais, abusando de seus instintos sexuais, remoendo rancores e ódio sem perdão, falando inverdades a respeito de alguém, principalmente daqueles com os quais mantinham relação próxima. Não os vi fazendo isso e não há registro na história de que tenham feito.

Por isso, meus caros, não tomo apenas o amor como base, pois minha imperfeição humana poderia, e certamente o faria, deturpar o mais sublime dos sentimentos. Aquele que Deus escolheu como sendo seu sinônimo. Prefiro, portanto, seguir os exemplos que já foram dados ao longo da história da humanidade. Os fatos estão aí, basta querer enxergar e, principalmente, seguir. Não sou ou tenho pretensão de ser algum desses homens ou mulheres. Não quero ditar aos outros o que fazer. Exponho a vocês aquilo que julgo poder ajudá-los a achar o caminho, como eu creio que tenha achado. Isso obviamente não quer dizer que este caminho não é cheio de dificuldades que nossa imperfeição vai impedir ou dificultar que sejam transpostos. Não tem problema. Deus ajuda. Ele tudo vê. Ele é o único que nos conhece no íntimo e sabe nossas verdadeiras intenções. É somente a Ele que nossa consciência presta contas. Mas ela presta contas. E não basta que amemos ao amigo, isso até os fariseus fazem, dizia Jesus. Temos que amar os inimigos para ter mérito. É tudo sempre pelo caminho mais difícil para chegar a Deus. Por isso não me atrevo dizer que me basta o amor. Não me basta. Ele me sustenta, é diferente. Ele me move para chegar até onde Deus quer que eu chegue, neste ou em outros tempos. O amor é o mais sublimes dos dons, nos ensinou Paulo de Tarso. Mas este mesmo Paulo provou e ensinou que a disciplina e o cumprimento das tarefas e responsabilidades é fundamental. O amor nos leva a cumpri-las, não o contrário.

Creio que no momento não tenha na Terra alguém encarnado que seja digno de se comparar a esses homens e mulheres maravilhosos que por aqui passaram para nos ensinar. Isso não é importante. O que realmente importa é que tenhamos a consciência de que eles acharam o caminho, e por imensa caridade divina, nos mostraram qual é e, principalmente, como segui-lo. Eu escolhi ir com eles. E você, por onde vai?

Um comentário:

SEM IDENTIFICAÇÃO disse...

Belo texto irmão! Fica com Deus, um grande abraço!
COCCA