quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Quem está no leme...

Ao longo de nossas vidas nos deparamos com situações dos mais diversos tipos. Há aquelas que nos deixam felizes, aquelas que nos deixam tristes, aquelas perante as quais ficamos indiferentes, etc. Entretanto, nas situações de conotação negativa (tristeza, dor, angústia, etc.) sempre somos levados a pensar na justiça de tal fato – é curioso como nunca nos questionamos do nosso merecimento a cerca de algo de bom que nos aconteça, como se tivéssemos o direito de sermos sempre abençoados –, se realmente merecemos passar por isso ou se Deus (sempre ele, coitado) está nos castigando por algo que, a princípio, nem mesmo fizemos, ou, se fizemos, não sabemos ou lembramos o que é. Nessas horas é muito comum se ouvir “o que eu fiz para merecer isso, meu Deus?”, ao passo que não tão comumente se ouve “muito obrigado, meu Deus” quando se é abençoado com algo. Mas isso é assunto para outra hora. Quero falar agora sobre outra coisa...

Recordo-me claramente de ter passado por vários desses momentos infelizes, bem como de ter estado ao lado de várias pessoas no momento em que elas viviam seus dias de infortúnios. Lembro claramente do que falavam (e alguns ainda falam até hoje) para mim e do que eu mesmo costumava dizer para essas pessoas, na tentativa de fazer a dor diminuir e de lhes dar esperanças: “Quem está no leme? Não é Deus? Então, sendo assim só pode dar certo no fim”. Olha, com o tempo eu fui vendo que não é bem assim...

Voltemos dois mil anos no tempo. Jesus disse que nem uma folha de uma árvore cai sem que Deus tenha desse fato conhecimento. Creio que uma interpretação literal dessa frase nos levaria a uma grande contradição, pois como poderia estar tudo planejado se temos o livre arbítrio? Para exemplificar: se eu decidir parar de escrever este texto agora e me jogar pela janela, foi fruto do livre arbítrio ou Deus já tinha preparado isso para mim? Se foi fruto do livre arbítrio, mas Deus já sabia previamente que eu ia fazer isso, então meu próprio arbítrio é “programado” antes de eu nascer, o que o impede de ser livre. Porém, uma interpretação não literal da frase de Jesus nos leva à conclusão que, a meu ver, é mais correta.

Creio que Jesus, ao dizer tal frase, tenha apenas afirmado um dos atributos da divindade: a onisciência. Deus tudo sabe, tudo vê. Isso é um consenso em todas as religiões, cristãs ou não. Há, portanto, uma grande diferença em tudo saber e tudo prever, e mais ainda de tudo programar. Voltando ao exemplo acima, Deus certamente veria o momento em que eu iria desistir de escrever e me jogar da janela. Certamente enviaria mensageiros para tentar me dissuadir da idéia através da intuição, de pensamentos, os quais eu poderia ou não ouvir e atender. Aí está, em minha concepção, uma situação onde não há contradição entre o livre arbítrio e a onisciência de Deus. Ele viu, tentou me impedir, mas respeitou minha decisão de não O escutar. Onisciência e livre arbítrio andaram juntos.

Faz-se importante, porém, frisar que as leis de Deus não são baseadas em anarquia, como alguns parecem pensar. Até mesmo nossa liberdade possui regras, deve respeitar leis, e, portanto, deve ser vivida com disciplina. Liberdade exige educação e responsabilidade. É tênue seu limiar com a anarquia, que é, por sua vez, a vivência da liberdade sem a medida das conseqüências. Sendo assim, nosso livre arbítrio tem limites. E isso explica muitos dos casos de mortes inesperadas de muitas pessoas, que é um dos mecanismos que o Criador possui para nos impedir de continuar fazendo mal uso de nossas vidas. Este, por si só, é um assunto muito complexo e delicado e, pessoalmente, não consigo ainda discorrer de forma completa sobre ele sem usar muitos dos conceitos da Doutrina Espírita. Como não é meu objetivo neste momento falar apenas para um nicho de pessoas, vou evitar entrar em detalhes sobre o que penso sobre livre arbítrio, carmas coletivo e individual, causa e efeito, etc. Atenhamo-nos, pois, ao assunto principal deste texto.

Bom, vimos que Deus, apesar de tudo ver e saber, ainda nos dá o livre arbítrio para que definamos os rumos a serem tomados em nossas vidas. Esta liberdade, entretanto, não é livre de limites, muito pelo contrário, carece de educação, disciplina e responsabilidade. É aí que volto ao início do texto e pergunto: quem está realmente no leme? Seria mesmo Deus?

Ora, se temos a liberdade de escolher os rumos para nossa vida, porque seria Deus aquele a “guiar o barco”? Por que jogar para cima Dele a responsabilidade sobre coisas que são, em sua esmagadora maioria, conseqüência de nosso próprio livre arbítrio, de nossos próprios atos? Há uma curiosidade imensa aqui, como já mencionado: Deus é sempre lembrado nas horas de dor, mas raramente o é nas horas de alegria. As conquistas são nossas, acontecem por nosso merecimento, as derrotas são obras de terceiros, onde o Criador está incluído. Por que isso? Comodismo, acredito.

“Livrar-se das responsabilidades é fácil. Difícil é escapar das conseqüências por se ter livrado delas". Bela frase do brilhante Graciliano Ramos. Explica muito do que acontece em nossas vidas. Quando não queremos ver os nossos próprios erros, jogamos a responsabilidade para Deus. “Deus quis assim”. Não, Deus não quis assim. Deus quer nosso progresso, nosso aprendizado, nossa evolução e felicidade. É isso que Ele quer. Qualquer outra coisa diferente disso não é divina, é humana. Somos nós, portanto, que temos que corrigir. Bebemos e dirigimos, aí quando há vítimas há duas hipóteses: “Por que Deus fez isso?” ou “Deus quis assim”. Temos relações sexuais com qualquer pessoa do sexo oposto – para alguns, até do mesmo sexo – que aparece em nossa vida, sem proteção alguma, aí quando as doenças ou a gravidez chegam, as mesmas duas hipóteses reaparecem. E assim se repete para todas as situações de infortúnio que pudermos imaginar. Por que não pensar que a responsabilidade é nossa? Por que os pais não concluem que em muitos dos casos educaram mal seus filhos, deram péssimos exemplos e não souberam levá-los para o caminho da responsabilidade e da disciplina? Porque é mais fácil transferir a responsabilidade para os ombros de alguém. Culpa-se o governo por não manter as estradas bem asfaltadas para justificar um acidente de automóvel com motorista alcoolizado que viajava em excesso de velocidade; culpa-se o “funkeiro” por fazer música que estimule o sexo livre e promíscuo para justificar a gravidez precoce de uma filha. Faz-se de tudo, menos assumir a responsabilidade pelo mal uso do livre arbítrio, mal cumprimento do dever de pai e mãe, mal cumprimento do dever de cidadão e, pior ainda, mal cumprimento das tarefas de um filho de Deus. Qual não foi minha surpresa ao ver recentemente um pai dizer na televisão “se meu filho realmente bateu nesta mulher, ele tem que ser preso e pagar por isso”. Este é um exemplo de alguém que entende o que é disciplina e educação. Se ele não soube educar o filho ou se seus esforços foram em vão – o que é bastante comum – é irrelevante. O importante é que ele assumiu a responsabilidade e, mais do que isso, estava fazendo com que o filho assumisse a sua também. Deus não estava lá sendo acusado injustamente em sua declaração.

Em outra ocasião eu já disse que ao longo da história do mundo não faltaram exemplos a serem seguidos. Basta que queiramos segui-los.

Sendo assim, meu caro leitor, voltando à metáfora do barco, creio que Deus esteja mais para o papel de vento do que para o de marinheiro, que é, certamente, ocupado por nós. O vento pode levar o barco a qualquer lugar, o acompanha em todo o caminho e dá a direção. A escolha de virar o leme para o lado errado é unicamente do marinheiro, o vento não tem qualquer influência sobre isso. Ele só observará o barco indo e vindo, sempre pronto para levá-lo para o caminho certo, bastando apenas que o marinheiro queira virar o leme para lá.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Reis e peões

Já faz bastante tempo que ouvi alguém dizer, não me recordo exatamente onde, que a vida deveria ser como uma caixa de peças de xadrez, onde reis e peões são iguais, assumem a mesma importância. Não me recordo se isso aconteceu em um filme, em um livro, em alguma conversa que tive, ou se até mesmo ouvi por obra do acaso enquanto passava na rua ou tomava um ônibus. Não lembro se a frase era exatamente assim, mas lembro claramente que o sentido era esse. Chamou-me muita atenção essa metáfora, pois a julguei bastante pertinente. Gostaria de falar um pouco sobre ela.

Ao longo da história da humanidade, mais particularmente do cristianismo, vimos diversos exemplos do que se deve e não se deve fazer – supostamente – em nome de Deus. Vimos exemplos completamente antagônicos, que vão de Francisco de Assis à Inquisição. Ambos ocorreram dentro da Igreja Católica, ou ao menos sob seu conhecimento e permissão, mas ilustram obras completamente opostas. Em comum, porém, o fato de ambos se dizerem defensores do Cristo e que tudo que faziam era em nome Deste e de Deus.

Para aqueles que acompanham meus escritos creio não ser segredo minha mais pura e completa admiração ao jovem da Úmbria. É, em minha opinião, o maior exemplo a ser seguido neste planeta depois, é claro, de Jesus Cristo. Penso que ele tenha sido o único a viver de maneira quase totalmente idêntica a como seu mestre viveu. Isso lhe rendeu a alcunha de “o santo dos santos”. Em contrapartida, fatos como a Inquisição, as Cruzadas, dentre outros, são a grande mancha negra que assombra, injustamente, até os dias de hoje a Igreja Católica. Digo injustamente, pois não se pode pagar eternamente por um passado negro, principalmente porque este ocorreu em uma era negra de toda a humanidade. Os que fizeram tais obras não são os mesmos que dirigem o Vaticano hoje. Seria injusta, também, uma situação inversa, onde um passado de glórias apagasse um presente de atrocidades. Há de se delegar a responsabilidade a quem ela é de direito. A Igreja atual não tem qualquer vínculo com os atos de seus antepassados, que interpretaram de maneira extremamente errônea os mandamentos do Cristo. Não é justo, portanto, que paguem por isso.

Refiro-me a esses dois casos para poder chegar à frase mencionada no início deste texto, aquela sobre reis e peões. Julgo completamente pertinentes os exemplos para esta associação e ilustração. Vejamos.

Francisco de Assis viveu de forma extremamente humilde. Abriu mão de tudo aquilo que tinha para recomeçar sua vida com absolutamente nada. Como se diz no popular, começar “do zero”. Seu pai era um comerciante muito rico, mas nem mesmo as roupas que trazia no corpo foram aproveitadas por ele. Tudo que tinha era um manto velho amarrado na cintura por uma corda igualmente velha. Ao longo de seu ministério, o jovem da Úmbria viveu com humildade e simplicidade, colocando todos em lugar de respeito, onde ninguém era maior ou melhor do que ninguém, onde as riquezas e bens do mundo não davam a qualquer pessoa ou instituição o direito de se julgar superior ou mais bem aventurado. A pobreza era para ele uma benção e um grande mecanismo de aprendizado. Era a representação física da simplicidade e humildade de seu espírito iluminado. Fez-se o menor de todos para poder se elevar perante o Senhor, exatamente como ensinou e viveu Jesus Cristo. Não havia para ele a desigualdade entre os homens, pois Deus ama a todos de forma igual. Era assim que ele tentava viver: amando a todos de maneira idêntica. A humanidade era sua família, todos eram seus irmãos e irmãs. Não havia mais nada no mundo de Francisco além do amor a Deus e a obediência aos ensinamentos e exemplos de Jesus.

A direção da Igreja Católica de sua época, como já foi exposto acima, era bastante diferente. É sabido que durante a Idade Média o clero tomou perante o mundo uma posição política, além da religiosa. A Igreja praticamente parou de se dedicar a “salvar almas” para ditar regras e dirigir países. Os reis e governantes em geral daquela época utilizavam a Igreja para obter proteções e recursos para seus reinos, em troca de poder político. Um dos maiores de todos os exemplos disso foram as Cruzadas. A Igreja financiou guerras sanguinárias que mataram milhões de pessoas tendo a figura do Cristo como estandarte. O maior dos pregadores do amor e da paz que já pisou pelo mundo, o homem que não levantou a mão ou a espada nem mesmo para se defender, virou motivo de guerras. Os papas apenas diziam a seus comandados: “É a vontade de Deus”. Será?

Seja como for, a Igreja passou a ser a maior instituição política no mundo da Idade Média. E como toda instituição política, os interesses são sempre negociados e trocados de forma o mais vantajosa possível para ambas as partes. Foi assim que a Igreja ficou extremamente rica. Foi nesta época que surgiram os imensos templos que existem até hoje, cobertos de ouro por todos os lados que se possa imaginar. Foi nessa época que a obstinação cega em expandir seus domínios levou à ruína moral a maior e mais antiga instituição do mundo: a Igreja Católica. A vida do alto clero nesta época era a mais obscura possível, e se não fossem exemplos como o de Francisco de Assis, os rumos corretos, aqueles que se baseiam em viver e defender o puro Evangelho, não teriam sido retomados. Não estou entrando no mérito de a Igreja Católica ser ou não o melhor caminho, se é ou não uma religião pura. Já disse em outras ocasiões o que penso a respeito das religiões e do catolicismo, mas é importante ressaltar apenas o fato de que a Igreja que existiu até o século XV não foi mais a mesma a partir daí. E, principalmente, durante o papado de João Paulo II obteve um grande avanço em suas visões. O resultado disso é o que chamam de Renovação Carismática. Mas este não é o foco aqui.

Voltando ao assunto do principal, pudemos ver a grande diferença de postura de seguidores do Evangelho de Jesus. Francisco, um rapaz rico que se fez pobre e viveu à margem da sociedade da época, realizando suas obras juntamente com seus seguidores, sem o apoio formal da Igreja. Um homem que para muitos foi motivo de escárnio e vergonha, inclusive para seu próprio pai, viveu, aos olhos terrenos, uma vida de peão. Alguém aparentemente sem importância, não muito relevante para o “jogo da vida”, pelo menos se comparado ao alto clero da época. Já este, rico e poderoso, e mais do que isso, governante através dos poderes legítimos das nações, era o próprio rei neste “jogo”. A mais importante das peças, o objetivo de todos; aquele que detém o poder de decidir quando o jogo acaba. Era por e através dele que o mundo caminhava. Era, portanto, o responsável por ditar as regras, o que o fez de maneira bastante equivocada.

Reis e peões conforme descritos acima já passaram e ainda passam com freqüência pelo mundo. E normalmente são colocados nesses papéis por conta própria. O que normalmente acontece é que os papéis se invertem na sociedade. As responsabilidades são deturpadas e o mesmo acaba por acontecer com as ações. Tudo isso porque os mandamentos básicos contidos no Evangelho não são mais seguidos e respeitados pelos “reis”, infelizmente. É nessa hora que devemos pensar na caixa do jogo de xadrez. Quando ela se fechar, quando o jogo acabar, reis e peões estarão lá dentro, todos iguais perante o dono da caixa. É com essa hora, quando as máscaras e fantasias caem, quando os papéis se igualam e todos ficam nas mesmas condições, que devemos nos preocupar. O jogo dura algumas horas, depois voltamos pra caixa. E ficamos lá até que o dono dela decida nos colocar de novo para jogar. Enquanto isso, nos mantemos todos iguais. Não interpretamos papéis perante os olhos do mundo, somos apenas nós mesmos. Além disso, lembre-se: sem os peões para lhe proteger o rei fica muito vulnerável. São os peões que abrem os olhos, os caminhos e fazem o terreno ficar propício para as demais peças. Reis, não se esqueçam disso. Pelo menos não enquanto estiverem no jogo, porque depois dele, quando tudo acaba, reis e peões não existem mais e devem viver em igualdade para sempre. Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça...

domingo, 20 de janeiro de 2008

Crer ou não crer?

Crer ou não crer em Deus? Eis a questão.

Perguntava-me ontem a respeito desta tão conturbada questão que assola a humanidade há muitos e muitos séculos. Questão que já matou milhões de pessoas ao longo de nossa história. Questionava sobre a necessidade de existir um deus. Ou melhor, sobre a necessidade de existir um deus em nossas vidas, porque se Deus realmente existir, não adianta nada crermos ou não Nele, pois Ele vai estar lá do mesmo jeito, agindo sobre todas as coisas à nossa revelia. Deus não precisa de nossa aprovação para existir, mas precisa de nossa aprovação para atuar em nossas vidas. Mais do que isso, precisa de nossa aprovação, de nosso desejo, para participar de nossas vidas. Eu, particularmente, creio Nele. E creio muito. E, como amante dele que sou, quero sempre defendê-Lo, antes mesmo de O atacarem.

Gosto muito de falar de Deus. Não ouso reinventá-Lo, redefini-Lo ou tentar dar minha interpretação imperfeita a Suas leis perfeitas. Gosto apenas de crer, de procurar Sua presença nas mínimas coisas do mundo e, principalmente, na minha vida. Gosto de analisar como Ele nos ama e como não Se cansa de demonstrar isso, até mesmo para aqueles que O ignoram e/ou rejeitam.

Para os que amam e crêem em Deus, defini-Lo pode ser incrivelmente difícil ou incrivelmente simples. Normalmente se diz que “Deus é amor”. Para muitos, isso basta. Para outros, não. Mas mesmo para estes, há a certeza de que além de amor, de inteligência suprema, etc., Deus certamente é todo amor. E um amor inconcebível para nós, pois é um amor perfeito e de dimensões infinitas. Nós, em nossa rigorosa finitude, não temos condição de conceber o infinito da forma com ele realmente o é. Nossa vida é toda baseada em noção de tempo, de dias com vinte e quatro horas, semanas com sete dias, meses com vinte e oito, trinta e trinta e um dias, anos com doze meses e trezentos e sessenta e cinco ou trezentos e sessenta e seis dias... Enfim, sem o tempo não sabemos quem somos, quantos anos temos, onde estamos no espaço, a que distância fica uma cidade, etc... Para Deus não há o tempo. Não há o início, tampouco o fim. Deus sempre esteve lá e sempre estará. Apenas esta simples afirmação já causa estranheza, pois há aquela natural vontade de tentar saber quando, em que momento houve o início de Deus. Por isso digo que tentar compreender um amor que sempre existiu e que nunca vai acabar, e que pode amar sem limites, é muito difícil – diria que impossível – para nós, tão limitados em nossa condição de humanos imperfeitos, finitos e restritos.

Para os que não crêem, toda e qualquer menção a Deus soa piegas, igrejista e fanaticamente religiosa. É algo que incomoda e vira motivo de risadas nas rodas de amigos que não acreditam na existência da força suprema. É um direito deles, certo? Podemos agir da maneira que julgarmos melhor, mas isso não nos isenta da responsabilidade dos atos e das palavras. Nessas horas, penso como deve ser bom ser ateu. Não há futuro. Quando encerrar-se a vida na Terra, se encerrou tudo. Qualquer coisa que eu faça nunca será julgada, tudo vale. Queimar mendigos e/ou índios no meio da madrugada vale, pois se ninguém ficar sabendo não serei preso e não pagarei pelo crime. Ser ateu é, sem dúvidas, uma maravilha nessas horas. Pode até ser, mas seria sempre bom lembrar que não é porque não creio em algo que esse algo não existe.

O mudo de nascença não sabe que existe o som, mas ele existe. Você pode alegar que ele não conhece o som, mas vê os outros o emitindo. Analogamente, para os ateus há os que crêem. Para o mudo o som pode ser uma invenção criada pelos demais. Pode realmente não existir. Ser apenas um delírio coletivo. Que provas palpáveis ele, o mudo, tem a respeito da existência do som? Um livro de física? É um escrito que descreve algo que ele não conhece fisicamente (não vê, não toca, não percebe com qualquer sentido do corpo), assim como a Bíblia ou outros livros religiosos descrevem um Deus que também não pode ser conhecido fisicamente. Definições das páginas dos livros e experiências alheias convencem o mudo de que há o som, mas não convencem os ateus de que há um deus. Sempre me perguntarei o porquê disso...

Seja como for, para mim há um deus. Há Deus. E Ele, em sua tamanha bondade, nos ama a todos, crendo Nele ou não. E, por mais curioso que pareça, é através dos ateus que ele demonstra um de seus maiores gestos de amor. Ele os ama, os ajuda, os respeita em seu livre-arbítrio, mas nunca Se mostra pra eles de forma ostensiva. Aguarda calmamente em Sua inexorável eternidade que estes decidam procurá-Lo. Ele os ama em silêncio, calado, de forma platônica, esperando que um dia possa ser notado. Assim Ele demonstra todo o seu amor e sua bondade. E aqueles que crêem e têm olhos para ver, que vejam...

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Coisas que a gente vê na TV

É muito comum vermos em programas de televisão representantes de alguns ramos da ciência, da saúde, da política, etc., darem suas opiniões ou pareceres a respeito de assuntos relativos a suas áreas. Vemos acadêmicos, professores, mestres e doutores discorrendo amplamente sobre um tema que, na maioria das vezes, desconhecemos ou não conhecemos o suficiente para emitir um parecer. Poucas são as oportunidades onde o assunto tratado é de amplo domínio da maioria. Comigo, pelo menos, é assim. São poucos os casos onde digo "sim" ou "não" ao que está sendo dito. Na maioria das vezes apenas ouço para aprender e conhecer um pouco do assunto.

No dia de ontem, porém, vi duas coisas na TV que me chamaram muito a atenção por motivos antagônicos. Um me deixou surpreso e feliz, o outro chocado e decepcionado.

Faz-se necessário frisar que todas as pessoas que aparecem de alguma forma no rádio ou na televisão, dos programas de auditório às novelas, dos telejornais aos reality shows, tornam-se pessoas públicas. Toda pessoa pública está sujeita a ter admiradores e detratores. Há os que gostam e os que desgostam. Somando-se a isso o fato de que a televisão, por si só, já é uma formadora de opinião. Um mero desconhecido que ganha trinta segundos pra falar em um programa jornalístico é, automaticamente, um formador de opinião, pois usa para se expressar um veículo que originalmente o é. Para aqueles que, como eu, não conhecem o assunto tratado, seus trinta segundos são mais do que importantes para, no mínimo, iniciar a formação da idéia daquele conceito ou assunto em suas mentes. Portanto, é de muita responsabilidade o papel de qualquer um que apareça na televisão ou no rádio, principalmente quando vai opinar sobre algum assunto de interesse público.

Vou começar pelo assunto que me decepcionou. Porém, antes de começar, deixo bem claro que não estou defendendo ou condenando qualquer pessoa ou religião. Tenho minhas crenças e deixo-as bem claras. Sinto-me, entretanto, no direito de expor minha opinião a respeito de qualquer assunto, contanto que assim o fazendo não agrida ou ofenda ninguém. E não julgo estar agindo assim. Portanto, vamos aos fatos.

Ontem, em um programa de variedades diário que passa às tardes, vi uma médium dando entrevistas e respondendo ao vivo perguntas previamente elaboradas por telespectadores. Abro aqui uma brecha para falar um pouco, muito pouco mesmo, sobre o fundamento do Espiritismo. Esta doutrina religiosa é cristã em sua essência e concepção, e como tal, prega o amor a Deus e ao próximo, os mandamentos do Cristo, tais como a caridade, abnegação e culto aos bens do espírito. Na verdade, a grande diferença do Espiritismo para o Catolicismo são algumas questões dogmáticas, principalmente a reencarnação. Porém, a essência da mensagem do Cristo é preservada, como se pode facilmente comprovar através de uma leitura de O Livro dos Espíritos e de O Evangelho Segundo o Espiritismo, que nada mais é do que uma interpretação à luz da Doutrina Espírita das palavras de Jesus.

Pois bem, continuemos. Durante o programa, a referida médium, que é por si só muitíssimo polêmica dentro do Espiritismo, afirmou categoricamente que devemos viver a vida aqui, sem se importar com o que acontece do lado de lá, se vamos para o umbral ou não. Afirmou que Deus quer que colecionemos bens na Terra, que "o lado de lá" nós nos preocupamos depois. Pensei na hora: "Se há alguém que deseja destruir o Espiritismo vendo este programa, acaba de ganhar muita munição". Meus caros, foi realmente impressionante pra mim, cristão, que aprendi dentro do Espiritismo e em casa, principalmente, com meus pais católicos, que a grande virtude de Jesus foi a abnegação dos bens materiais; que o próprio Mestre não cansava de dizer que o reino Dele não é deste mundo; que devemos cultivar os bens do espírito e não os terrenos, etc. Garanto-lhes: o que está em O Evangelho Segundo o Espiritismo e em O Livro dos Espíritos não é em nada semelhante ao que esta senhora disse. É muito mais do que óbvio, e isso também está lá, que Deus nos quer felizes, nos quer bem e nos ama, querendo que levemos uma vida feliz. Isso está lá porque está no Evangelho, portanto, sendo uma doutrina cristã, não poderia ser diferente. Porém, os nossos bens terrenos são mero veículo para que possamos ter as condições de alcançar os bens do espírito. Eles devem servir para que possamos viver bem, mas não para que sejam o objetivo principal. Se um ouvido um pouco menos preparado ouve as afirmações desta senhora pode pensar que o Espiritismo fomenta o orgulho e a ganância, o que não é verdade. Por favor, não creiam fielmente no que esta senhora diz sem antes procurarem saber na fonte da doutrina Espírita qual é realmente sua mensagem.

É importante deixar claro que esta não é uma campanha contra os bens terrenos ou que eu esteja sugerindo votos de pobreza a todos. De forma alguma, muito pelo contrário. Acho, sim, que devemos ir em busca do progresso individual, mas sem esquecer o coletivo. Se trabalhamos duro para ter nosso salário e desejamos nos dar o conforto de um carro ou de uma casa aconchegante, temos o direito de assim fazer. Se desejamos praticar esportes para manter nosso corpo saudável e nos ajudar a livrar do stress do dia-a-dia, que assim o façamos. Se podemos nos custear viagens de férias para nós e nossas famílias, que assim seja. Desejo tudo isso para mim e para todos nós. Trabalho para isso, inclusive. Nunca devemos, porém, esquecer dos mandamentos e, principalmente, dos exemplos sagrados do Cristo. Os valores do espírito são os mais importantes, portanto, devemos mais do que qualquer outra coisa, pensar no que vamos levar efetivamente desta vida quando dela partirmos. Os bens da Terra ficam na Terra. Os do espírito o acompanham quando este se vai. Preocupemo-nos cada dia mais com a vida após a vida, pois é ela que dura para sempre.

Não condeno a senhora por pensar como pensa, é um direito dela. Mas também é um direito meu querer seguir o que está escrito e foi exemplificado pelos grandes homens e mulheres da humanidade.

Enquanto isso...
Na madrugada de ontem para hoje, assistia a uma partida de tênis daquele que é considerado o melhor tenista da atualidade e, para a grande maioria (na qual me incluo), quase a unanimidade, o maior de todos os tempos. Seu adversário era um jogador muito famoso no circuito profissional, já joga há muitos anos, e é notoriamente conhecido por sua grande habilidade, garra e velocidade. O jogo foi um massacre. O número um do mundo venceu de maneira arrasadora por um placar humilhante. A forma de vencer, entretanto, foi honrosa e humilde.

Há no tênis uma maneira de se demonstrar respeito e admiração pelo adversário, quase que uma representação de uma genuflexão perante ele. Ao fim do jogo, o jogador deve passar por sobre a rede para cumprimentar seu oponente do outro lado da quadra. E ao finalizar a partida, o melhor de todos os tempos fez essa incrível e inesperada demonstração de respeito, algo que nunca havia feito em toda a sua carreira. Foi, obviamente, ovacionado no estádio. Esta foi a maneira que encontrou para evitar a euforia, evitar que a vaidade o consumisse pela esmagadora vitória perante um adversário tão indigno de tê-la sofrido. Em respeito à história de seu oponente no esporte e a seu comportamento durante o jogo, ele decidiu agir assim.

Vejo claramente que em ambos os casos fica nítido quem entendeu melhor as mensagens deixadas por Deus sobre a Terra através de seus vários mensageiros. É necessário, realmente, aplaudir de pé um homem milionário, que fatura mais de dez milhões de dólares por ano, mas mesmo assim não se esquece daquilo que uma religiosa nos manda esquecer.

Pense nisso. Pense naquilo que você vê na TV.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

A arte de perdoar

Tarefa difícil, palavra difícil. Perdoar. O que significa este grande verbo? A definição do dicionário não me agrada de todo porque traz apenas a resposta lingüística para o termo. Minha dúvida vem mesmo do ato de perdoar. O que é o perdão? Que mistérios o envolvem? Muito difícil de responder sem que pra isso os exemplos venham à tona. É só assim que consigo entender o perdão, através dos exemplos. Não adianta pensar em palavras que não tenham sido vividas. Penso num homem que disse que deveríamos perdoar os nossos inimigos, e assim o fez pouco antes do último suspiro de sua vida com aqueles que matavam seu corpo preso a uma cruz de madeira. É por aqui que deve começar o estudo desta arte, chamada perdão.

Penso nas obras de Da Vinci e de tantos outros gênios da renascença e busco em sua perfeição um traço de complexidade equivalente ao ato de perdoar, de verdadeiramente perdoar. Sem desmerecer os homens que fizeram o mundo mudar radicalmente a partir dali, não creio que nas pinturas de Michelangelo ou nas peças de Mozart exista algo que demande tanto esforço do ser humano para ser concebido interiormente como esta santíssima arte, que poucas vezes se viu pintada no mundo de forma tão bela, como se viu há dois mil anos, e pouquíssimas vezes depois disso.

Eu tenho o péssimo hábito de tentar explicar o que não se explica; de percorrer caminhos já várias vezes percorridos por outros na busca de algo que já se achou; de tentar redefinir o que não carece mais de definição. Juro que não sei mesmo o motivo desta coisa ciclicamente redundante em minha vida, mas creio que isso venha da certeza de que cada um é único em sua essência, o que significa que talvez uma explicação não me agrade, que um caminho possa ser encurtado e que uma definição não me seja suficiente. Talvez seja isso. Talvez. Não sei. Mas é nisso que acredito por enquanto, enquanto é só isso que meu espírito, que não pára de querer aprender, consegue aprender. No meio tempo a vida vai me ensinando.

É por essas e outras que penso sobre o perdão, e analisando os grandes exemplos da história, como Jesus, Francisco de Assis, Joana D’Arc, dentre tantos outros, me pergunto o que neles há em comum. É a única maneira de tentar chegar a algum lugar. A primeira coisa que encontro é óbvia: o amor. Todos esses trazem dentro de si um amor de tamanho inconcebível a muitos de nós, espíritos ainda tão simples, que por muitas vezes ficamos tentados a lhes chamar de loucos. Já ouvi dizerem que Jesus era o primeiro “doidão” da história, que disse que era o filho de Deus e muita gente, mais doida ainda, acreditou. Que pena... Já ouvi dizerem que Francisco de Assis tomou uma pancada na cabeça na guerra e por isso enlouqueceu e achou que era santo. Santo Deus, enlouqueça-me!!! Quero enlouquecer, então, para que esse amor me habite. Para que eu possa, como eles, perdoar antes mesmo de se magoar, pois o amor não se magoa. Não o amor divino, que habitava aqueles corações. Loucura... Onde já se viu...

Como ainda é bem cedo pra que ache que Deus vá me “enlouquecer” como o fez a esses homens, decidi procurar outra fórmula para o perdão. Achei que só o amor não adiantava, porque poucas vezes na vida vi um perdoar verdadeiro, aquele que não guarda qualquer ressentimento, mágoa ou mácula no espírito. O verdadeiro e profundo perdão para a verdadeira e profunda mágoa. Perdoar as pequenas faltas do dia-a-dia é comum, nem dá para dizer que é tão difícil assim de se conseguir. Nem sei se dá pra considerar tudo a mesma coisa. Acho que isso está mais pra relevar do que perdoar. Falo de apagar de vez do coração a dor e a mágoa causadas por uma grande ferida, aquela que na hora que é criada parece que escurece o ambiente e faz nossa cabeça girar, o sangue ferver e o coração desesperar, parecendo querer sair do peito por não suportar tamanha dor.

Fui, então, recorrer aos exemplos mais uma vez. Bom, dessa vez os pés estavam um pouco mais no chão, e acabei achando outro tipo de exemplo, algo que estivesse mais próximo de mim. Confesso que foi difícil encontrar. Muito difícil. Mas acabei achando. A vida não é assim tão cheia de espinhos. Há muitas rosas também. Na verdade, sem um não há o outro, já que andam juntos no mesmo corpo, na mesma plantação. Complementam-se. Nesse roseiral da vida acabei achando as flores. Nem foi tão difícil, bastou olhar um pouco pra cima. Quando se olha pra baixo, obviamente, não se vê as flores, só os espinhos. Olhemos, pois, para cima e as flores estarão lá, lindas e perfumadas, junto aos espinhos, claro, mas facilitando as coisas, tornando bela uma plantação que, dependendo do ponto de vista, pode ser muito nebulosa.

Com a rosa do exemplo nas mãos, acabei achando outro fator determinante no perdão: o tempo. Pessoas que perdoaram de verdade, daquela maneira que descrevi mais acima, tiveram tempo para perdoar. Acho, na verdade, que se deram tempo para perdoar. Não conheci um caso de alguém que não fosse como os “loucos” lá de cima e que tivesse perdoado instantaneamente, e nesse rol podem incluir minha pessoa. Mas porque uns podem perdoar antes mesmo de que lhe peçam perdão e outros dependem de mais tempo pra isso? Ou, ainda, porque outros não conseguem perdoar? A resposta, meus caros, é uma equação de duas variáveis, onde uma varia em função da outra. O perdão não vem do amor ou do tempo, mas vem do amor que se vive ao longo do tempo. Quanto mais amor, menos tempo para perdoar. Os “loucos” de Deus não precisavam de tempo, era imediato, pois o amor que os habitava era inconcebível a nós. Em contrapartida, nós precisamos de um longo tempo, pois o amor em nós ainda é pequeno, por maior que pareça. E para alguns, o tempo nunca chega, porque o amor nunca é suficiente. Não tem problema. A vida é eterna, o espírito é eterno e “em verdade, em verdade eu te digo: quem não renascer da água e do Espírito, não pode entrar no Reino de Deus (Jo 3:5)”. O tempo, de fato, sempre virá. É tudo questão de tempo. O amor é que precisa nascer e se desenvolver dentro de cada um de nós, a fim de encurtar essa função matemática. E, ao contrário do relógio do universo, que anda à nossa revelia, nosso espírito anda à nossa vontade. Cabe a nós desenvolver o amor e o senso de justiça, para que o perdão verdadeiro, aquele descrito lá em cima, apareça de verdade em nossas vidas.

Eu fiquei pensando aqui e tentando lembrar desse divino perdão praticado em minha vida. Só o vi uma vez. Graças a Deus só tive uma oportunidade, e consegui perdoar. Sabe quanto tempo levou? Dois anos. Mas o dia, enfim, chegou. Pensei em situação contrária. Quantas vezes precisei que me perdoassem nessa intensidade? Inúmeras. Quantas aconteceram? Algumas. Sabe a conclusão que cheguei? Que mais do que aprender a perdoar, preciso aprender a não ferir...

sábado, 12 de janeiro de 2008

E lá se foi 2007...

O ano de 2007 chega ao fim e normalmente esta é a hora de fazer uma análise de como foram os últimos 365 dias de nossas vidas. Hora de se lembrar de tudo aquilo que prometemos na última virada de ano e analisar o que foi cumprido. Mais do que isso, é hora de recordar de tudo aquilo que pedimos a Deus (ou seja lá o nome que você dá a ele) e contar o que foi atendido e o que não foi. Normalmente reclamamos daquilo que não aconteceu, mesmo que o número de negações seja muito inferior ao de concessões. Sempre achamos que o mais importante ficou faltando. É comum que isso aconteça. Faz parte da natureza do ser humano a incessante busca pela felicidade plena. Coitados de nós... Querer ser feliz plenamente neste planeta ainda está muito longe de ser possível. A felicidade, portanto, deve estar dentro de cada um de nós. Apenas lá. E essa, meu caro leitor, é construída lentamente, tijolo por tijolo, dia a dia, até o último suspiro vital. O alcançar desta felicidade será mais ou menos fácil, depende dos objetivos, das aspirações, da ganância, da resignação e de muitos outros sentimentos dentro de nós. Por isso, graças a Deus (olha ele aqui de novo), somos únicos. Não há fórmulas para a felicidade, mesmo entre irmãos gêmeos, entre marido e mulher, pai e filho. Cada um é único em seu interior.

Permita-me, caro leitor, falar sobre o meu 2007. “Eita” anozinho difícil esse! Acho que houve mais mudanças, dificuldades, situações limítrofes, tensões e tropeços do que em qualquer outro ano dos últimos cinco anos, pelo menos. Como dizem por aí, foi uma “suadeira danada” chegar até aqui. Mas cheguei, ou melhor, chegamos, minha mulher e eu, graças a Deus (de novo!? Cara intrometido, esse...).

2007 pode até ter tido isso tudo aí do parágrafo de cima, nem vou gastar meu tempo enumerando. Não gosto de perder tempo com coisas menores. Gosto de olhar pro copo e dizer que ele está meio cheio, e não meio vazio (clichê, mas explica). Gosto de olhar o bom que há em tudo. Já dizia o saudoso John Lennon: “life is very short and there's no time for fussing and fighting my friend” (não sabe o que é? Joga no Google). Sendo assim, por que se aborrecer com o que ficou faltando de tudo aquilo que se pediu ou o que não foi cumprido de tudo aquilo que se prometeu? Nosso 2007 (lembra, sempre eu e minha mulher) foi ótimo, apesar de tudo. Talvez tenha sido o ano mais difícil de nossas vidas, mas um dos melhores, certamente. “Tá” certo: estamos mais brancos do que nunca, ela está mais estressada, eu estou mais ocioso, ela não vai mais à praia, eu não saio mais com os amigos... Nossa... Bom, mas em compensação, trabalho dois dias na semana; ela se formou; gravei e lancei no Brasil e no exterior meu primeiro disco da forma exata que eu queria; ela trabalha em uma das maiores empresas do Brasil como administradora de customer relationship management systems (o Google te ajuda em mais essa, ok?); voltei a escrever e, além de estar quase terminando meu primeiro livro, tenho a chance de ter meu primeiro conto publicado em breve; ela amadureceu e já é uma excelente dona de casa, daquelas que trabalha fora e tudo, mesmo tão nova; eu ganhei um sobrinho lindo (pena que é corintiano). Enfim, muita coisa boa que conquistamos juntos. Tem mais coisa pra listar, mas pra que? O importante não é isso. Só queria mostrar pra você, leitor, que é possível chegar lá, mesmo quando todo mundo diz que não ou, pior, tenta te mostrar que não. Essas pessoas ficam e nós vamos, nós avançamos. Faz tempo que eu e minha mulher não “curtimos a vida” (não é assim que diz?), mas não tem problema. Em um dia bem próximo, tenho certeza, vamos fazer tudo isso, enquanto muita gente vai estar “se matando” para recuperar o tempo que gastou na praia ou na academia ao invés de ficar estudando e ser alguém na vida. Paulinho Mosca já dizia: “Se o mundo fosse acabar, me diz o que você faria... Iria a um Shopping Center, ou para uma academia, pra se esquecer que não dá tempo pro tempo que já se perdia”.

É óbvio que não fizemos isso tudo sozinhos. Minha mãe, minha irmã, meu cunhado, minha sogra, meu sogro, minha cunhada, meu outro cunhado e nossa meia dúzia de verdadeiros amigos (pra que quantidade quando se tem qualidade?) ajudaram muito. Sem contar os que estão lá de cima só dando “pitaco” sem que vejamos ou sintamos.
A todos vocês, um muito obrigado. Seguimos juntos em 2008 mais uma vez.

E para o intrometido que apareceu em quase todos os parágrafos lá em cima, um último recado: continue se metendo. Está dando muito certo.
Obrigado por tudo. Obrigado pela vida.