sexta-feira, 21 de março de 2008

Seguir ou não seguir?

Hoje acordei sem muita coisa para escrever. O ânimo estava meio baixo. Momento de fraqueza diante dos problemas que se apresentam cotidianamente. Passei boa parte da noite pensando, me questionando se eu não estava sendo meio exagerado em algumas atitudes, se realmente estou indo pelo caminho certo. Procurei auxílio na fonte máxima de luz. Não, não no sol. No Evangelho, sol do Sol. O capítulo X do livro de Mateus foi o que veio muito bem a calhar e, como não poderia deixar de ser, explicou muita coisa. Fala sobre a escolha e a missão dos apóstolos. Um trecho em especial me chamou atenção, os versículos 34 a 36. Transcrevo-os.

“Não julgueis que eu tenha vindo trazer paz à Terra. Não vim trazer a paz, mas a espada. Porque vim separar o homem contra seu pai, e a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra. E os inimigos do homem serão os de sua própria casa.”

Como o trecho é polêmico, mas muito profético, fui procurar o que significava. Parti em busca de exemplos. Achei algumas coisas bastante interessantes na história do cristianismo. Vejamos algumas.

Bárbara era filha única de um nobre comerciante turco. Em determinada ocasião seu pai precisou viajar e, por ela ser ainda muito jovem, este a trancou em uma torre para que ela não tivesse contato com a sociedade. Ele receava que ela fosse corrompida, dada a corrupção vigente na época. Durante esse tempo ela pôde estudar e acabou tornando-se cristã. Ao voltar de viagem e saber da notícia da conversão da filha, seu pai tentou convencê-la a abdicar de sua fé e crer nos deuses do Império Romano. Diante de sua negação, seu pai a denunciou ao prefeito da cidade, que a torturou tentando a conversão. Como a jovem insistia em sua fé, foi condenada à morte, sentença executada pelo próprio pai.

Tomás de Aquino, um dos mais respeitáveis e inteligentes religiosos da igreja católica de todos os tempos, foi criado por seus pais, nobres da região de Nápoles, para que se tornasse abade do mosteiro de Monte Cassino, onde foi internado pela família aos cinco anos de idade. Aos dezenove decidiu se juntar aos dominicanos, ordem mendicante criada por Domingos de Gusmão. Diante da negação da família, foi obrigado a fugir de casa para seguir sua vida em caminho do Cristo.

Francisco era filho de um rico comerciante da região da Úmbria, na Itália. Seu pai sonhava em torná-lo seu herdeiro nas rédeas do próspero negócio de tecidos que possuía. Ainda jovem foi à guerra, onde ficou preso por um ano. Voltou do cárcere muito doente, e durante sua recuperação foi se convertendo lentamente. Depois de curado, Francisco decidiu reformar a igreja de São Damião com o dinheiro do pai, que o acusou de furto. Diante do bispo e da família, Francisco pediu a benção à igreja, abriu mão de tudo que tinha e lhe fora dado pelo pai, inclusive as vestes que carregava no corpo, e saiu para cumprir sua missão religiosa.

Clara era uma belíssima jovem, filha de nobres também da região da Úmbria. Foi muito influenciada na vida religiosa e até mesmo na escolha deste caminho pelos exemplos que presenciava de Francisco de Assis. Contrariando a decisão da família de lhe casar com um jovem rico, Clara foi obrigada a abandonar tudo e seguir Francisco, fundando a Ordem das Clarissas, o que pode-se considerar a vertente feminina da Ordem Franciscana. Viveu em extrema pobreza até o último dia de sua vida.

Estes são apenas alguns dos muitos exemplos que temos ao longo da história narrando problemas e divergências, familiares ou não, por causa do Cristo. Ele os previu corretamente, como tudo aquilo que fez. Nenhuma de suas palavras ficou sem exemplificação. Nenhuma. A pergunta é apenas esta: quem estava com a razão: As famílias, que queriam viver os gozos das facilidades da vida mundana, ou os futuros santos, que abriram mão de tudo que fosse inerente ao mundo físico para cultivar as virtudes do espírito? Vale à pena conhecer mais profundamente a história desses homens e mulheres antes de responder.

Nosso papel na Terra é único. Cada um traz consigo um conjunto de responsabilidades e tarefas a cumprir. Não podemos exigir de todos que vivam em extrema pobreza. Eu mesmo jamais conseguiria. Seria extrema hipocrisia de minha parte dizer o contrário. E, sinceramente, creio que no mundo de hoje isso seja quase impossível. O planeta está cada vez mais envolto em um universo tecnológico e a vida cotidiana exige, em qualquer país, do mais pobre ao mais rico, muito esforço, trabalho e suor. Não que não fosse assim antes, mas a competição quase antropófaga do mundo atual é castradora em diversos sentidos. Além disso, nas épocas narradas acima os alicerces das religiões e da moral humana ainda estavam sendo construídos. Hoje já há uma gama imensa de exemplos em todas as crenças, culturas e povos, cristãos ou nãos, para que neles o homem se baseie. É fato que há ainda muita má interpretação humana da maioria desses exemplos, mas isso é outro problema, que não vou abordar aqui.

Nosso papel nesse mundo é viver a vida que deve ser vivida aqui, sem achar, porém, que tudo se encerra e se resume aqui. Ao longo dos anos temos que viver sempre de acordo com os preceitos e leis de Deus, mesmo que isso vá contra amigos ou familiares. Nossas escolhas e atitudes devem ser sempre tomadas de acordo com os bons princípios, com os exemplos de todos esses que passaram pelo mundo como base. A moral do ser humano não tem religião. Os bons exemplos não são de propriedade de um ou outro credo. Preocuparia-me demais ouvir um cristão dizer que Gandhi não é um exemplo de moral, amor, caridade e caráter, ou um hindu dizer o mesmo do Cristo. Até porque Gandhi O respeitava e admirava. Vejam o que ele diz a Seu respeito:

“Cristo é a maior fonte de força espiritual que o homem tenha conhecido. Ele é o exemplo mais nobre de um que deseja dar tudo sem pedir nada. Cristo não pertence somente ao Cristianismo, mas ao mundo inteiro”

Enfim, os exemplos estão aí. Adaptemo-los às nossas vidas, ao nosso tempo, ao nosso dia-a-dia, às nossas possibilidades (isso é muitíssimo importante) e sigamo-los sempre, à medida do possível. Temos, cada um, os nossos limites, que devem ser respeitados. O importante é que sempre tentemos chegar a esse limite, dar sempre o nosso melhor, nos esforçamos ao máximo para que cheguemos lá um dia.

Acabo de perceber uma coisa: como deve ser feita a vontade de Deus e não a minha, acabei escrevendo um bocado...

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