Já faz bastante tempo que ouvi alguém dizer, não me recordo exatamente onde, que a vida deveria ser como uma caixa de peças de xadrez, onde reis e peões são iguais, assumem a mesma importância. Não me recordo se isso aconteceu em um filme, em um livro, em alguma conversa que tive, ou se até mesmo ouvi por obra do acaso enquanto passava na rua ou tomava um ônibus. Não lembro se a frase era exatamente assim, mas lembro claramente que o sentido era esse. Chamou-me muita atenção essa metáfora, pois a julguei bastante pertinente. Gostaria de falar um pouco sobre ela.
Ao longo da história da humanidade, mais particularmente do cristianismo, vimos diversos exemplos do que se deve e não se deve fazer – supostamente – em nome de Deus. Vimos exemplos completamente antagônicos, que vão de Francisco de Assis à Inquisição. Ambos ocorreram dentro da Igreja Católica, ou ao menos sob seu conhecimento e permissão, mas ilustram obras completamente opostas. Em comum, porém, o fato de ambos se dizerem defensores do Cristo e que tudo que faziam era em nome Deste e de Deus.
Para aqueles que acompanham meus escritos creio não ser segredo minha mais pura e completa admiração ao jovem da Úmbria. É, em minha opinião, o maior exemplo a ser seguido neste planeta depois, é claro, de Jesus Cristo. Penso que ele tenha sido o único a viver de maneira quase totalmente idêntica a como seu mestre viveu. Isso lhe rendeu a alcunha de “o santo dos santos”. Em contrapartida, fatos como a Inquisição, as Cruzadas, dentre outros, são a grande mancha negra que assombra, injustamente, até os dias de hoje a Igreja Católica. Digo injustamente, pois não se pode pagar eternamente por um passado negro, principalmente porque este ocorreu em uma era negra de toda a humanidade. Os que fizeram tais obras não são os mesmos que dirigem o Vaticano hoje. Seria injusta, também, uma situação inversa, onde um passado de glórias apagasse um presente de atrocidades. Há de se delegar a responsabilidade a quem ela é de direito. A Igreja atual não tem qualquer vínculo com os atos de seus antepassados, que interpretaram de maneira extremamente errônea os mandamentos do Cristo. Não é justo, portanto, que paguem por isso.
Refiro-me a esses dois casos para poder chegar à frase mencionada no início deste texto, aquela sobre reis e peões. Julgo completamente pertinentes os exemplos para esta associação e ilustração. Vejamos.
Francisco de Assis viveu de forma extremamente humilde. Abriu mão de tudo aquilo que tinha para recomeçar sua vida com absolutamente nada. Como se diz no popular, começar “do zero”. Seu pai era um comerciante muito rico, mas nem mesmo as roupas que trazia no corpo foram aproveitadas por ele. Tudo que tinha era um manto velho amarrado na cintura por uma corda igualmente velha. Ao longo de seu ministério, o jovem da Úmbria viveu com humildade e simplicidade, colocando todos em lugar de respeito, onde ninguém era maior ou melhor do que ninguém, onde as riquezas e bens do mundo não davam a qualquer pessoa ou instituição o direito de se julgar superior ou mais bem aventurado. A pobreza era para ele uma benção e um grande mecanismo de aprendizado. Era a representação física da simplicidade e humildade de seu espírito iluminado. Fez-se o menor de todos para poder se elevar perante o Senhor, exatamente como ensinou e viveu Jesus Cristo. Não havia para ele a desigualdade entre os homens, pois Deus ama a todos de forma igual. Era assim que ele tentava viver: amando a todos de maneira idêntica. A humanidade era sua família, todos eram seus irmãos e irmãs. Não havia mais nada no mundo de Francisco além do amor a Deus e a obediência aos ensinamentos e exemplos de Jesus.
A direção da Igreja Católica de sua época, como já foi exposto acima, era bastante diferente. É sabido que durante a Idade Média o clero tomou perante o mundo uma posição política, além da religiosa. A Igreja praticamente parou de se dedicar a “salvar almas” para ditar regras e dirigir países. Os reis e governantes em geral daquela época utilizavam a Igreja para obter proteções e recursos para seus reinos, em troca de poder político. Um dos maiores de todos os exemplos disso foram as Cruzadas. A Igreja financiou guerras sanguinárias que mataram milhões de pessoas tendo a figura do Cristo como estandarte. O maior dos pregadores do amor e da paz que já pisou pelo mundo, o homem que não levantou a mão ou a espada nem mesmo para se defender, virou motivo de guerras. Os papas apenas diziam a seus comandados: “É a vontade de Deus”. Será?
Seja como for, a Igreja passou a ser a maior instituição política no mundo da Idade Média. E como toda instituição política, os interesses são sempre negociados e trocados de forma o mais vantajosa possível para ambas as partes. Foi assim que a Igreja ficou extremamente rica. Foi nesta época que surgiram os imensos templos que existem até hoje, cobertos de ouro por todos os lados que se possa imaginar. Foi nessa época que a obstinação cega em expandir seus domínios levou à ruína moral a maior e mais antiga instituição do mundo: a Igreja Católica. A vida do alto clero nesta época era a mais obscura possível, e se não fossem exemplos como o de Francisco de Assis, os rumos corretos, aqueles que se baseiam em viver e defender o puro Evangelho, não teriam sido retomados. Não estou entrando no mérito de a Igreja Católica ser ou não o melhor caminho, se é ou não uma religião pura. Já disse em outras ocasiões o que penso a respeito das religiões e do catolicismo, mas é importante ressaltar apenas o fato de que a Igreja que existiu até o século XV não foi mais a mesma a partir daí. E, principalmente, durante o papado de João Paulo II obteve um grande avanço em suas visões. O resultado disso é o que chamam de Renovação Carismática. Mas este não é o foco aqui.
Voltando ao assunto do principal, pudemos ver a grande diferença de postura de seguidores do Evangelho de Jesus. Francisco, um rapaz rico que se fez pobre e viveu à margem da sociedade da época, realizando suas obras juntamente com seus seguidores, sem o apoio formal da Igreja. Um homem que para muitos foi motivo de escárnio e vergonha, inclusive para seu próprio pai, viveu, aos olhos terrenos, uma vida de peão. Alguém aparentemente sem importância, não muito relevante para o “jogo da vida”, pelo menos se comparado ao alto clero da época. Já este, rico e poderoso, e mais do que isso, governante através dos poderes legítimos das nações, era o próprio rei neste “jogo”. A mais importante das peças, o objetivo de todos; aquele que detém o poder de decidir quando o jogo acaba. Era por e através dele que o mundo caminhava. Era, portanto, o responsável por ditar as regras, o que o fez de maneira bastante equivocada.
Reis e peões conforme descritos acima já passaram e ainda passam com freqüência pelo mundo. E normalmente são colocados nesses papéis por conta própria. O que normalmente acontece é que os papéis se invertem na sociedade. As responsabilidades são deturpadas e o mesmo acaba por acontecer com as ações. Tudo isso porque os mandamentos básicos contidos no Evangelho não são mais seguidos e respeitados pelos “reis”, infelizmente. É nessa hora que devemos pensar na caixa do jogo de xadrez. Quando ela se fechar, quando o jogo acabar, reis e peões estarão lá dentro, todos iguais perante o dono da caixa. É com essa hora, quando as máscaras e fantasias caem, quando os papéis se igualam e todos ficam nas mesmas condições, que devemos nos preocupar. O jogo dura algumas horas, depois voltamos pra caixa. E ficamos lá até que o dono dela decida nos colocar de novo para jogar. Enquanto isso, nos mantemos todos iguais. Não interpretamos papéis perante os olhos do mundo, somos apenas nós mesmos. Além disso, lembre-se: sem os peões para lhe proteger o rei fica muito vulnerável. São os peões que abrem os olhos, os caminhos e fazem o terreno ficar propício para as demais peças. Reis, não se esqueçam disso. Pelo menos não enquanto estiverem no jogo, porque depois dele, quando tudo acaba, reis e peões não existem mais e devem viver em igualdade para sempre. Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça...
Ao longo da história da humanidade, mais particularmente do cristianismo, vimos diversos exemplos do que se deve e não se deve fazer – supostamente – em nome de Deus. Vimos exemplos completamente antagônicos, que vão de Francisco de Assis à Inquisição. Ambos ocorreram dentro da Igreja Católica, ou ao menos sob seu conhecimento e permissão, mas ilustram obras completamente opostas. Em comum, porém, o fato de ambos se dizerem defensores do Cristo e que tudo que faziam era em nome Deste e de Deus.
Para aqueles que acompanham meus escritos creio não ser segredo minha mais pura e completa admiração ao jovem da Úmbria. É, em minha opinião, o maior exemplo a ser seguido neste planeta depois, é claro, de Jesus Cristo. Penso que ele tenha sido o único a viver de maneira quase totalmente idêntica a como seu mestre viveu. Isso lhe rendeu a alcunha de “o santo dos santos”. Em contrapartida, fatos como a Inquisição, as Cruzadas, dentre outros, são a grande mancha negra que assombra, injustamente, até os dias de hoje a Igreja Católica. Digo injustamente, pois não se pode pagar eternamente por um passado negro, principalmente porque este ocorreu em uma era negra de toda a humanidade. Os que fizeram tais obras não são os mesmos que dirigem o Vaticano hoje. Seria injusta, também, uma situação inversa, onde um passado de glórias apagasse um presente de atrocidades. Há de se delegar a responsabilidade a quem ela é de direito. A Igreja atual não tem qualquer vínculo com os atos de seus antepassados, que interpretaram de maneira extremamente errônea os mandamentos do Cristo. Não é justo, portanto, que paguem por isso.
Refiro-me a esses dois casos para poder chegar à frase mencionada no início deste texto, aquela sobre reis e peões. Julgo completamente pertinentes os exemplos para esta associação e ilustração. Vejamos.
Francisco de Assis viveu de forma extremamente humilde. Abriu mão de tudo aquilo que tinha para recomeçar sua vida com absolutamente nada. Como se diz no popular, começar “do zero”. Seu pai era um comerciante muito rico, mas nem mesmo as roupas que trazia no corpo foram aproveitadas por ele. Tudo que tinha era um manto velho amarrado na cintura por uma corda igualmente velha. Ao longo de seu ministério, o jovem da Úmbria viveu com humildade e simplicidade, colocando todos em lugar de respeito, onde ninguém era maior ou melhor do que ninguém, onde as riquezas e bens do mundo não davam a qualquer pessoa ou instituição o direito de se julgar superior ou mais bem aventurado. A pobreza era para ele uma benção e um grande mecanismo de aprendizado. Era a representação física da simplicidade e humildade de seu espírito iluminado. Fez-se o menor de todos para poder se elevar perante o Senhor, exatamente como ensinou e viveu Jesus Cristo. Não havia para ele a desigualdade entre os homens, pois Deus ama a todos de forma igual. Era assim que ele tentava viver: amando a todos de maneira idêntica. A humanidade era sua família, todos eram seus irmãos e irmãs. Não havia mais nada no mundo de Francisco além do amor a Deus e a obediência aos ensinamentos e exemplos de Jesus.
A direção da Igreja Católica de sua época, como já foi exposto acima, era bastante diferente. É sabido que durante a Idade Média o clero tomou perante o mundo uma posição política, além da religiosa. A Igreja praticamente parou de se dedicar a “salvar almas” para ditar regras e dirigir países. Os reis e governantes em geral daquela época utilizavam a Igreja para obter proteções e recursos para seus reinos, em troca de poder político. Um dos maiores de todos os exemplos disso foram as Cruzadas. A Igreja financiou guerras sanguinárias que mataram milhões de pessoas tendo a figura do Cristo como estandarte. O maior dos pregadores do amor e da paz que já pisou pelo mundo, o homem que não levantou a mão ou a espada nem mesmo para se defender, virou motivo de guerras. Os papas apenas diziam a seus comandados: “É a vontade de Deus”. Será?
Seja como for, a Igreja passou a ser a maior instituição política no mundo da Idade Média. E como toda instituição política, os interesses são sempre negociados e trocados de forma o mais vantajosa possível para ambas as partes. Foi assim que a Igreja ficou extremamente rica. Foi nesta época que surgiram os imensos templos que existem até hoje, cobertos de ouro por todos os lados que se possa imaginar. Foi nessa época que a obstinação cega em expandir seus domínios levou à ruína moral a maior e mais antiga instituição do mundo: a Igreja Católica. A vida do alto clero nesta época era a mais obscura possível, e se não fossem exemplos como o de Francisco de Assis, os rumos corretos, aqueles que se baseiam em viver e defender o puro Evangelho, não teriam sido retomados. Não estou entrando no mérito de a Igreja Católica ser ou não o melhor caminho, se é ou não uma religião pura. Já disse em outras ocasiões o que penso a respeito das religiões e do catolicismo, mas é importante ressaltar apenas o fato de que a Igreja que existiu até o século XV não foi mais a mesma a partir daí. E, principalmente, durante o papado de João Paulo II obteve um grande avanço em suas visões. O resultado disso é o que chamam de Renovação Carismática. Mas este não é o foco aqui.
Voltando ao assunto do principal, pudemos ver a grande diferença de postura de seguidores do Evangelho de Jesus. Francisco, um rapaz rico que se fez pobre e viveu à margem da sociedade da época, realizando suas obras juntamente com seus seguidores, sem o apoio formal da Igreja. Um homem que para muitos foi motivo de escárnio e vergonha, inclusive para seu próprio pai, viveu, aos olhos terrenos, uma vida de peão. Alguém aparentemente sem importância, não muito relevante para o “jogo da vida”, pelo menos se comparado ao alto clero da época. Já este, rico e poderoso, e mais do que isso, governante através dos poderes legítimos das nações, era o próprio rei neste “jogo”. A mais importante das peças, o objetivo de todos; aquele que detém o poder de decidir quando o jogo acaba. Era por e através dele que o mundo caminhava. Era, portanto, o responsável por ditar as regras, o que o fez de maneira bastante equivocada.
Reis e peões conforme descritos acima já passaram e ainda passam com freqüência pelo mundo. E normalmente são colocados nesses papéis por conta própria. O que normalmente acontece é que os papéis se invertem na sociedade. As responsabilidades são deturpadas e o mesmo acaba por acontecer com as ações. Tudo isso porque os mandamentos básicos contidos no Evangelho não são mais seguidos e respeitados pelos “reis”, infelizmente. É nessa hora que devemos pensar na caixa do jogo de xadrez. Quando ela se fechar, quando o jogo acabar, reis e peões estarão lá dentro, todos iguais perante o dono da caixa. É com essa hora, quando as máscaras e fantasias caem, quando os papéis se igualam e todos ficam nas mesmas condições, que devemos nos preocupar. O jogo dura algumas horas, depois voltamos pra caixa. E ficamos lá até que o dono dela decida nos colocar de novo para jogar. Enquanto isso, nos mantemos todos iguais. Não interpretamos papéis perante os olhos do mundo, somos apenas nós mesmos. Além disso, lembre-se: sem os peões para lhe proteger o rei fica muito vulnerável. São os peões que abrem os olhos, os caminhos e fazem o terreno ficar propício para as demais peças. Reis, não se esqueçam disso. Pelo menos não enquanto estiverem no jogo, porque depois dele, quando tudo acaba, reis e peões não existem mais e devem viver em igualdade para sempre. Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça...
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