É muito comum vermos em programas de televisão representantes de alguns ramos da ciência, da saúde, da política, etc., darem suas opiniões ou pareceres a respeito de assuntos relativos a suas áreas. Vemos acadêmicos, professores, mestres e doutores discorrendo amplamente sobre um tema que, na maioria das vezes, desconhecemos ou não conhecemos o suficiente para emitir um parecer. Poucas são as oportunidades onde o assunto tratado é de amplo domínio da maioria. Comigo, pelo menos, é assim. São poucos os casos onde digo "sim" ou "não" ao que está sendo dito. Na maioria das vezes apenas ouço para aprender e conhecer um pouco do assunto.
No dia de ontem, porém, vi duas coisas na TV que me chamaram muito a atenção por motivos antagônicos. Um me deixou surpreso e feliz, o outro chocado e decepcionado.
Faz-se necessário frisar que todas as pessoas que aparecem de alguma forma no rádio ou na televisão, dos programas de auditório às novelas, dos telejornais aos reality shows, tornam-se pessoas públicas. Toda pessoa pública está sujeita a ter admiradores e detratores. Há os que gostam e os que desgostam. Somando-se a isso o fato de que a televisão, por si só, já é uma formadora de opinião. Um mero desconhecido que ganha trinta segundos pra falar em um programa jornalístico é, automaticamente, um formador de opinião, pois usa para se expressar um veículo que originalmente o é. Para aqueles que, como eu, não conhecem o assunto tratado, seus trinta segundos são mais do que importantes para, no mínimo, iniciar a formação da idéia daquele conceito ou assunto em suas mentes. Portanto, é de muita responsabilidade o papel de qualquer um que apareça na televisão ou no rádio, principalmente quando vai opinar sobre algum assunto de interesse público.
Vou começar pelo assunto que me decepcionou. Porém, antes de começar, deixo bem claro que não estou defendendo ou condenando qualquer pessoa ou religião. Tenho minhas crenças e deixo-as bem claras. Sinto-me, entretanto, no direito de expor minha opinião a respeito de qualquer assunto, contanto que assim o fazendo não agrida ou ofenda ninguém. E não julgo estar agindo assim. Portanto, vamos aos fatos.
Ontem, em um programa de variedades diário que passa às tardes, vi uma médium dando entrevistas e respondendo ao vivo perguntas previamente elaboradas por telespectadores. Abro aqui uma brecha para falar um pouco, muito pouco mesmo, sobre o fundamento do Espiritismo. Esta doutrina religiosa é cristã em sua essência e concepção, e como tal, prega o amor a Deus e ao próximo, os mandamentos do Cristo, tais como a caridade, abnegação e culto aos bens do espírito. Na verdade, a grande diferença do Espiritismo para o Catolicismo são algumas questões dogmáticas, principalmente a reencarnação. Porém, a essência da mensagem do Cristo é preservada, como se pode facilmente comprovar através de uma leitura de O Livro dos Espíritos e de O Evangelho Segundo o Espiritismo, que nada mais é do que uma interpretação à luz da Doutrina Espírita das palavras de Jesus.
Pois bem, continuemos. Durante o programa, a referida médium, que é por si só muitíssimo polêmica dentro do Espiritismo, afirmou categoricamente que devemos viver a vida aqui, sem se importar com o que acontece do lado de lá, se vamos para o umbral ou não. Afirmou que Deus quer que colecionemos bens na Terra, que "o lado de lá" nós nos preocupamos depois. Pensei na hora: "Se há alguém que deseja destruir o Espiritismo vendo este programa, acaba de ganhar muita munição". Meus caros, foi realmente impressionante pra mim, cristão, que aprendi dentro do Espiritismo e em casa, principalmente, com meus pais católicos, que a grande virtude de Jesus foi a abnegação dos bens materiais; que o próprio Mestre não cansava de dizer que o reino Dele não é deste mundo; que devemos cultivar os bens do espírito e não os terrenos, etc. Garanto-lhes: o que está em O Evangelho Segundo o Espiritismo e em O Livro dos Espíritos não é em nada semelhante ao que esta senhora disse. É muito mais do que óbvio, e isso também está lá, que Deus nos quer felizes, nos quer bem e nos ama, querendo que levemos uma vida feliz. Isso está lá porque está no Evangelho, portanto, sendo uma doutrina cristã, não poderia ser diferente. Porém, os nossos bens terrenos são mero veículo para que possamos ter as condições de alcançar os bens do espírito. Eles devem servir para que possamos viver bem, mas não para que sejam o objetivo principal. Se um ouvido um pouco menos preparado ouve as afirmações desta senhora pode pensar que o Espiritismo fomenta o orgulho e a ganância, o que não é verdade. Por favor, não creiam fielmente no que esta senhora diz sem antes procurarem saber na fonte da doutrina Espírita qual é realmente sua mensagem.
É importante deixar claro que esta não é uma campanha contra os bens terrenos ou que eu esteja sugerindo votos de pobreza a todos. De forma alguma, muito pelo contrário. Acho, sim, que devemos ir em busca do progresso individual, mas sem esquecer o coletivo. Se trabalhamos duro para ter nosso salário e desejamos nos dar o conforto de um carro ou de uma casa aconchegante, temos o direito de assim fazer. Se desejamos praticar esportes para manter nosso corpo saudável e nos ajudar a livrar do stress do dia-a-dia, que assim o façamos. Se podemos nos custear viagens de férias para nós e nossas famílias, que assim seja. Desejo tudo isso para mim e para todos nós. Trabalho para isso, inclusive. Nunca devemos, porém, esquecer dos mandamentos e, principalmente, dos exemplos sagrados do Cristo. Os valores do espírito são os mais importantes, portanto, devemos mais do que qualquer outra coisa, pensar no que vamos levar efetivamente desta vida quando dela partirmos. Os bens da Terra ficam na Terra. Os do espírito o acompanham quando este se vai. Preocupemo-nos cada dia mais com a vida após a vida, pois é ela que dura para sempre.
Não condeno a senhora por pensar como pensa, é um direito dela. Mas também é um direito meu querer seguir o que está escrito e foi exemplificado pelos grandes homens e mulheres da humanidade.
Enquanto isso...
Na madrugada de ontem para hoje, assistia a uma partida de tênis daquele que é considerado o melhor tenista da atualidade e, para a grande maioria (na qual me incluo), quase a unanimidade, o maior de todos os tempos. Seu adversário era um jogador muito famoso no circuito profissional, já joga há muitos anos, e é notoriamente conhecido por sua grande habilidade, garra e velocidade. O jogo foi um massacre. O número um do mundo venceu de maneira arrasadora por um placar humilhante. A forma de vencer, entretanto, foi honrosa e humilde.
Há no tênis uma maneira de se demonstrar respeito e admiração pelo adversário, quase que uma representação de uma genuflexão perante ele. Ao fim do jogo, o jogador deve passar por sobre a rede para cumprimentar seu oponente do outro lado da quadra. E ao finalizar a partida, o melhor de todos os tempos fez essa incrível e inesperada demonstração de respeito, algo que nunca havia feito em toda a sua carreira. Foi, obviamente, ovacionado no estádio. Esta foi a maneira que encontrou para evitar a euforia, evitar que a vaidade o consumisse pela esmagadora vitória perante um adversário tão indigno de tê-la sofrido. Em respeito à história de seu oponente no esporte e a seu comportamento durante o jogo, ele decidiu agir assim.
Vejo claramente que em ambos os casos fica nítido quem entendeu melhor as mensagens deixadas por Deus sobre a Terra através de seus vários mensageiros. É necessário, realmente, aplaudir de pé um homem milionário, que fatura mais de dez milhões de dólares por ano, mas mesmo assim não se esquece daquilo que uma religiosa nos manda esquecer.
Pense nisso. Pense naquilo que você vê na TV.
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