A vida nos apronta cada uma, viu? Tenho certeza que tudo que o Cosmo quer é provar que, por mais que tentemos negar e repudiar a ideia, nada, absolutamente nada, está sob nosso controle. Pra que as coisas aconteçam, basta que o relógio esteja batendo. E ele sempre está.
Nos últimos anos eu passei por um monte de situações um tanto quanto pitorescas: meu pai morreu; uma árvore escolheu aleatoriamente o carro do meu fantástico primo para esmagar e nos privar para sempre de sua companhia física; minha tia avó, fofa até dizer chega, dormiu bem e quando acordou já não estava mais lá; minha avó, de um dia pro outro, esqueceu de tudo e de todos por causa de uma maldita doença com nome de campo de concentração alemão; saí de casa bem e voltei sabendo que tinha 30% de chances de morrer; abri a página web do jornal e vi que Michael Jackson e Steve Jobs haviam morrido; e, pra concluir, fui acordado com a notícia de que minha duplamente madrinha – batismo e casamento – havia sido internada por um infarto e estava em estado grave no hospital. Depois de tantas notícias, de tantos buracos abertos nos últimos anos, estava ruim de acreditar que aí viria mais um. Mas o Cosmo, sempre ele, provando mais uma vez de quem é o controle, começou a desenhar o inevitável...
Foram vários – cinco, para ser mais preciso – dias de uma agonia sem fim. Nem vale a pena relatar toda a luta, todos os momentos tensos que todos passaram em casa e/ou no hospital. Quero só falar um pouco de quem era, pra mim, a pessoa que nos deixou.
Regina Coeli, a rainha do céu, mãe de quatro filhos: Sandro, Glaucio, Leandro e Paula (estes dois últimos postiços, mas quem liga?). Uma pessoa que nunca ficou triste, que sempre sorriu e passou por cima de todas as dificuldades e turbulências de sua vida com uma facilidade que beirava a loucura, de tão simples. Os gaúchos têm uma expressão interessante que a definia bem: “louco de tão tranqüilo”. Era assim que ela ficava nas horas de aperto. E o melhor era que trazia todo mundo com ela. Até pra nos deixar foi assim. Entrou andando no hospital, ficou lá por cinco longos dias, esperou que todos estivessem mais preparados, calmamente se despediu de todos, e se foi. Foi para um lugar muito melhor, onde terá o gozo que merece depois de tanto tempo de lutas neste mundo.
Sabe, é difícil falar dela, porque era minha madrinha, minha tia e uma segunda mãe. Passei minha adolescência na casa dela. Foi lá que aprendi a tocar guitarra, foi lá que fiz a minha primeira banda e conheci minha primeira grande paixão. Foi na casa dela que decidi que ia ser veterinário como ela, mas também foi lá que desisti de ser, ao ver que não tinha condições de sair ileso de uma eutanásia de um filhotinho com cinomose. Era ela a única mentirosa que vivia me dizendo que eu cantava muito bem e que eu deveria fazê-lo mais vezes. Quem vai me dizer isso agora? Era ela a sem noção que não tinha vergonha de falar das bandas dos filhos dela pra quem quer que fosse e tinha um orgulho que eu nunca vi igual de sua prole de músicos. Como curtia e apoiava nossos sonhos, cara... Sem precedentes em nossas vidas. E agora, como fica? Quem vai nos dizer que temos que tocar e acreditar nisso? Já era difícil com ela, imagine agora.
Foi-se uma grande mulher, uma grande guerreira, uma grande mãe, uma grande amiga. Mas se foi porque era boa demais pra este mundo cão. Deixa um imenso buraco, que demorará a fechar, mas que servirá de estímulo para melhorarmos nossas vidas, as pessoas que somos e como somos com os outros. Foi para reinar no céu, como seu nome dizia, para nos ajudar lá de cima, junto de tantos outros familiares sensacionais que nos deixaram e que de lá nos ajudam a viver aqui, nessa terra ingrata e injusta. Foi a Regina, ficou a saudade. A primeira foi tão grande que deixou a última ainda maior do que ela. É o ciclo da vida. O doloroso e cruel ciclo da vida.
Vai com Deus, Dinda. Fica com Ele, na verdade. E ajuda o povo aí de cima a ajudar o povo aqui de baixo, porque está cada vez mais difícil, já que pessoas como você insistem em nos deixar. Se com você, meu pai, Diogo, tia Leila e tantos outros já era difícil, imagina sem... Vai e brilha pra que a gente possa te ver daqui. E desculpa não ter conseguido entrar na UTI pra te dizer adeus. Isso vai doer por um tempo em mim ainda... Mas tenha sempre a certeza de que nossa mania de você não acabará jamais. Beijo do teu sobrinho e afilhado, Lê.
Nos últimos anos eu passei por um monte de situações um tanto quanto pitorescas: meu pai morreu; uma árvore escolheu aleatoriamente o carro do meu fantástico primo para esmagar e nos privar para sempre de sua companhia física; minha tia avó, fofa até dizer chega, dormiu bem e quando acordou já não estava mais lá; minha avó, de um dia pro outro, esqueceu de tudo e de todos por causa de uma maldita doença com nome de campo de concentração alemão; saí de casa bem e voltei sabendo que tinha 30% de chances de morrer; abri a página web do jornal e vi que Michael Jackson e Steve Jobs haviam morrido; e, pra concluir, fui acordado com a notícia de que minha duplamente madrinha – batismo e casamento – havia sido internada por um infarto e estava em estado grave no hospital. Depois de tantas notícias, de tantos buracos abertos nos últimos anos, estava ruim de acreditar que aí viria mais um. Mas o Cosmo, sempre ele, provando mais uma vez de quem é o controle, começou a desenhar o inevitável...
Foram vários – cinco, para ser mais preciso – dias de uma agonia sem fim. Nem vale a pena relatar toda a luta, todos os momentos tensos que todos passaram em casa e/ou no hospital. Quero só falar um pouco de quem era, pra mim, a pessoa que nos deixou.
Regina Coeli, a rainha do céu, mãe de quatro filhos: Sandro, Glaucio, Leandro e Paula (estes dois últimos postiços, mas quem liga?). Uma pessoa que nunca ficou triste, que sempre sorriu e passou por cima de todas as dificuldades e turbulências de sua vida com uma facilidade que beirava a loucura, de tão simples. Os gaúchos têm uma expressão interessante que a definia bem: “louco de tão tranqüilo”. Era assim que ela ficava nas horas de aperto. E o melhor era que trazia todo mundo com ela. Até pra nos deixar foi assim. Entrou andando no hospital, ficou lá por cinco longos dias, esperou que todos estivessem mais preparados, calmamente se despediu de todos, e se foi. Foi para um lugar muito melhor, onde terá o gozo que merece depois de tanto tempo de lutas neste mundo.
Sabe, é difícil falar dela, porque era minha madrinha, minha tia e uma segunda mãe. Passei minha adolescência na casa dela. Foi lá que aprendi a tocar guitarra, foi lá que fiz a minha primeira banda e conheci minha primeira grande paixão. Foi na casa dela que decidi que ia ser veterinário como ela, mas também foi lá que desisti de ser, ao ver que não tinha condições de sair ileso de uma eutanásia de um filhotinho com cinomose. Era ela a única mentirosa que vivia me dizendo que eu cantava muito bem e que eu deveria fazê-lo mais vezes. Quem vai me dizer isso agora? Era ela a sem noção que não tinha vergonha de falar das bandas dos filhos dela pra quem quer que fosse e tinha um orgulho que eu nunca vi igual de sua prole de músicos. Como curtia e apoiava nossos sonhos, cara... Sem precedentes em nossas vidas. E agora, como fica? Quem vai nos dizer que temos que tocar e acreditar nisso? Já era difícil com ela, imagine agora.
Foi-se uma grande mulher, uma grande guerreira, uma grande mãe, uma grande amiga. Mas se foi porque era boa demais pra este mundo cão. Deixa um imenso buraco, que demorará a fechar, mas que servirá de estímulo para melhorarmos nossas vidas, as pessoas que somos e como somos com os outros. Foi para reinar no céu, como seu nome dizia, para nos ajudar lá de cima, junto de tantos outros familiares sensacionais que nos deixaram e que de lá nos ajudam a viver aqui, nessa terra ingrata e injusta. Foi a Regina, ficou a saudade. A primeira foi tão grande que deixou a última ainda maior do que ela. É o ciclo da vida. O doloroso e cruel ciclo da vida.
Vai com Deus, Dinda. Fica com Ele, na verdade. E ajuda o povo aí de cima a ajudar o povo aqui de baixo, porque está cada vez mais difícil, já que pessoas como você insistem em nos deixar. Se com você, meu pai, Diogo, tia Leila e tantos outros já era difícil, imagina sem... Vai e brilha pra que a gente possa te ver daqui. E desculpa não ter conseguido entrar na UTI pra te dizer adeus. Isso vai doer por um tempo em mim ainda... Mas tenha sempre a certeza de que nossa mania de você não acabará jamais. Beijo do teu sobrinho e afilhado, Lê.
3 comentários:
Genial, meu irmão...
A tristeza está realmente no fato de termos que viver essa vida difícil sem ela, sem sua companhia, sorriso, conselhos e alegria...
Mas, a única coisa que me acalma é saber que ela está muito viva. Temos que deixá-la ir em paz, sem tristeza, porque não é isso que ela quer.
Eu já tinha perdido a minha filha que eu não tive tempo de conhecer, mas agora, que não tenho mais minha mãe presente é que comecei a entender a vida. Ela não é cruel, mas é dura.
Nos resta realmente fazer valer nossa existência, nos tornando pessoas melhores, fazendo o bem aos nossos irmãos e auxiliando os animais desamparados que ela tanto ama. Não se pode desperdiçar tempo.
Queria dizer pra minha mãe que embora eu saiba que ela tinha muito orgulho de mim, daqui em diante farei que ela tenha muito mais, de lá de onde ela está... Queria dizer também um grande "obrigado", pois tudo o que sou eu devo a ela!
As saudades não serão eternas, mas bastante longas – já que pretendo viver bastante pra ver meus netos – mas chegará o dia do reencontro. Agora eu sei que quando a minha hora chegar, será uma hora feliz, pois vou rever a pessoa que eu mais amo e a pessoa que mais me amou, sem dúvidas.
Minha mãe, Rainha do Céu e Rainha de meu coração. Vou te amar pra sempre.
Estou sem palavras pra escrever...
Perfeita cada colocação...
Deus irá nos guiar nesse momento tão difícil... pra mim o mais difícil até hoje, pois as perdas que tive eu não tinha noção já que era tão pequena...
E pode ter certeza que ela quer que nos lembremos desses momentos maravilhosos que tivemos ao seu lado.
E do sorriso... que eu sempre via!
Tá difícil, mas o tempo consegue amenizar...
Uma grande pena, caríssimo primo. Lembro dela, de quando estive no Rio - no início de 2003 -, quando fomos, algumas vezes, ensaiar com a banda que montamos. Sinto-me, assim, impelido a expressar, aqui, minhas condolências a você, a tia Nini e a Paulinha - meus parentes diretos -, e sobretudo a Gláucio e Sandro - com quem tive algum contato por pouco tempo, mas o suficiente para saber que se tratam de duas pessoas extremamente talentosas e amistosas, como que por legado.
Por isso - e agora também pelas suas palavras -, duvido muito que ela tenha vindo ao mundo com tão belo nome à toa. Está reinando num lugar melhor, agora. Certamente.
Muita força a todos vocês, que ainda têm muito caminho para seguir mostrando, naturalmente, o quanto são mesmo grandes!
Continuem com Deus - e sintam-se abraçados -, todos.
Sinceramente.
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